sábado, abril 26, 2014

Passaram...


... ontem 40 anos sobre a manhã de Abril que mudou para sempre o rumo da História de Portugal e da vida dos portugueses. Caía assim um regime pautado pelo silêncio forçado, pela polícia política e pela ditadura. Terminavam assim os dias de desaparecimentos e de prisões de tantas pessoas. Surgia de novo a liberdade e a possibilidade de se poder dizer o que verdadeiramente se pensava, poder seguir o rumo de vida que realmente se desejava e, no caso específico das mulheres, abriam-se novas portas e novas possibilidades profissionais.

Tudo poderia ter sido diferente se o imediato do NRP "Almirante Gago Coutinho" não tivesse impedido o disparo a partir desta fragata estacionado em pleno rio Tejo sobre as tropas que se juntavam no Terreiro do Paço. Tudo teria sido diferente se o soldado que estava num chaimite como o da fotografia tivesse acatado a ordem do seu superior e tivesse disparado sobre um homem de braços abertos que teimava permanecer diante do imponente canhão. Esse homem era Salgueiro Maia. Um olhar e um nome que surgirá sempre associado a este dia e ao regresso da liberdade para todos os portugueses.

Estive ontem presente no Terreiro do Paço, onde desde dia 24 e até ao final do dia de hoje muitas são as actividades e as demonstrações apresentadas pelos três ramos das Forças Armadas. Foi bom ver tanta gente na rua e muito curiosa com aquilo que os militares tinham para mostrar e explicar. Muitos foram os aplausos que se ouviram no concerto dado pela Banda da Armada e em que estiveram presentes os três Chefes de Estado-Maior dos três ramos. Muitas eram as crianças que tudo queriam ver e tudo queriam aprender. E muitos foram os aplausos que se ouviram após os gritos das três escolas de raiz militar que existem no nosso País e que estiveram presentes para mostrar aquilo que são ao nível da ginástica e que tantos prémios e medalhas ganham a nível nacional e internacional. Primeiro o silêncio e depois a salva de palmas aos gritos do Instituto de Odivelas, Colégio Militar e Instituto dos Pupilos do Exército. 

Ao contrário do que muitas vezes os nossos governantes podem querer fazer passar em muitas das suas declarações, é nestes momentos e nestas manifestações que se vê que os portugueses estimam os seus militares. Ainda que eu ache que poderiam estimar muito mais, pois estamos a anos-luz do que se passa em muitos países lá fora como Espanha, Reino Unido ou Estados Unidos da América, as pessoas estiveram presentes. Muitas pessoas durante todo o dia no Terreiro do Paço fizeram questão de ver e de falar com os militares que por lá andavam. 

É bom ver que ainda existe algum do espírito de Abril que conseguiu receber de braços abertos os militares que tiveram a coragem de dizer "Basta!" e de sair para as ruas para lutar por um simples ideal: a liberdade!

segunda-feira, abril 21, 2014

sábado, abril 19, 2014

Esta...

... semana, o mundo da literatura, do pensamento e da cultura ficou mais pobre. Muito mais pobre. O mundo viu partir Gabo... Gabriel García Marquez. Um dos melhores escritores que a humanidade poderia ter conhecido. Assim ficamos mais tristes. Nós. Amantes de livros. Pessoas que folheiam livros em busca de palavras, de pensamentos, de partilha. Nós. Amantes de livros. Vamos ter saudades tuas, Gabo!

"Quando uma mulher decide dormir com um homem, não há parede que ela não escale; nenhuma fortaleza que não destrua; nenhuma consideração moral que não ignore até à sua raíz; não existe nenhum Deus que valha a preocupação"
O Amor nos Tempos de Cólera

"A descrença é mais resistente do que a fé, pois é sustentada pelos sentidos"
Do Amor e Outros Demónios

"A Humanidade, como um exército em campo, avança à velocidade do mais lento"
O Amor nos Tempos de Cólera

segunda-feira, abril 07, 2014

O...

... que a capacidade humana de um homem pode fazer na forma como os que o rodeiam o vêem...


Numa sexta-feira, saía o comandante Calvão da Unidade um pouco mais tarde do que o costume, trajando à civil no seu carro pessoal como era hábito, quando antes de chegar a Coina dá conta de um vulto furtivo que, cosido com a sombra das árvores da fronteira Mata da Machada, tentava passar despercebido enquanto seguia a pé na mesma direcção. O cabelo cortado rente, o porte juvenil e a intenção visível de circular sem ser detectado não deixavam qualquer dúvida de que se tratava de um aluno castigado a "dar o salto". 
O comandante pára o carro e chama-o. Surpreendido, o rapaz obedece logo que reconhece quem lhe dá ordem tão peremptória e aproxima-se da viatura apavorado. Desde que chegara à Escola que ouvia falar de Alpoim Calvão como um veterano muito duro da guerra na Guiné e naquele momento via realizados os seus piores receios: ser apanhado em flagrante pelo próprio comandante. Ao ser interrogado sobre qual o seu destino, responde atrapalhado, titubeando, que procurava boleia para Lisboa. Foi pois com surpresa que ouviu o seu superior retorquir-lhe:
- Sobre, eu também vou para Lisboa e levo-te.
Sem entender bem o que se passava, o mancebo entra na viatura e ambos seguem viagem, conversando sobre banalidades. Ao chegar a Lisboa, o comandante pede-lhe a morada para onde se dirige, afirmando ser sua vontade levá-lo a casa. O rapaz fica perplexo, já sem saber o que pensar daquela situação tão insólita.
Chegados ao destino, o comandante surpreende-o novamente perguntado-lhe quando tenciona regressar.
- Domingo às 20h00 - responde o rapaz.
- Pois seja Domingo. Às 20h00, estarei aqui para te levar de volta.
Esse não foi certamente o fim-de-semana mais tranquilo na vida daquele aluno fuzileiro, mas a verdade é que no dia e hora aprazados nenhum dos dois faltou ao encontro e regressaram juntos à Escola, conversando sobre trivialidades durante todo o caminho. Passando por Coina e ao chegar ao local onde dois dias antes apanhara o rapaz (que nesta altura já se devia estar a ver na prisão), o comandante pára o carro e diz-lhe:
- Sai. Aqui te apanhei, aqui te deixo. Regressa à Escola e se o fizeres sem ninguém te detectar nada de mal te sucederá. Mas se fores apanhado serei rigoroso no castigo e podes estar certo que ninguém te livrará de ir parar com os ossos à prisão.
Ao entrar na Unidade, o comandante dirige-se ao gabinete do oficial de serviço, como é boa norma na Marinha, cumprimenta-o, interroga-o sobre os incidentes do fim-de-semana e ao saber que estava tudo tranquilo, vai-se deitar sem tocar no assunto do fugitivo. No dia seguinte, logo de manhã, quando o oficial de serviço se apresenta no seu gabinete, o comandante repete as perguntas e fica satisfeito ao ser informado de que as licenças tinham regressado sem novidade.
Muitas vezes se voltou a cruzar o comandante Calvão com o militar fugitivo, mas jamais tocou no assunto da escapadela. A coragem, o "desenrascanço" e a habilidade do rapaz ficaram provados e, no seu entender, valiam o perdão.
A História não guardou o nome daquele homem, mas duma coisa podemos estar certos: daquele dia em diante havia mais um fuzileiro que tudo faria pelo seu comandante, que a isso mandava a gratidão, virtude que os marinheiros sabem cultivar melhor do que ninguém. 

in Hortelão, R., de Baêna, L. S. & Sousa, A. M. (2012). Alpoim Calvão. Honra e Dever. Porto: Caminhos Romanos.

domingo, abril 06, 2014

Podia...

... estar na cama... Em modo ronha... Podia... Mas já estou em frente ao computador a trabalhar. Existem domingos em que tem mesmo de ser assim... Tudo porque vale a pena quando nos sentimos bem!

sábado, abril 05, 2014

Saudades...

... Saudades é do que trata este post. Saudades mas também de conquistas, de sonhos e de desejos. 

Eu adoro escrever. Simplesmente adoro! Não consigo explicar muito bem porquê nem quando surgiu este meu gosto mas gosto. E muito! E essa foi talvez a principal razão que me levou a criar este blog no ido ano de 2005 (ui... até parece que já foi há cem anos atrás!). E lá tem sobrevivido este blog ao longo dos anos, umas vezes com mais textos escritos, outras vezes nem tanto. Mas nunca tive a vontade de deixar de o ter, de fechar o blog ou de deixar de escrever. Ainda que possa levar algum tempo sem o fazer tão regularmente como em outras alturas...

Estes últimos tempos têm sido daqueles em que tenho andado mais afastada daqui do blog... O que não significa que a vontade de escrever tenha desaparecido. Antes pelo contrário! A questão é que, quando a nossa vida entra num verdadeiro turbilhão de mudanças, existem coisas que vão tendo de ficar em stand by e às quais somos obrigados a dedicar menos tempo do que aquele que gostaríamos verdadeiramente. E aqui o blog é, infelizmente, uma dessas coisas... Os últimos tempos (meses mesmo!) têm sido de muitas mudanças, de muitas espirais, de algumas (muitas!) noites sem dormir. Mas parece que, umas boas depois da mudança se ter finalmente consumado, estou finalmente mais leve e mais descansada. Acho que já consegui entrar no novo ritmo e na nova logística de ter um pé em cada margem durante a semana. Acho que agora já consigo voltar a ter o tempo necessário para me dedicar a todas aquelas coisas que adoro... 

Ainda que os dias agora teimem em ser mais longo e mesmo que, numa primeira vista, pareça que eu tenho menos tempo livre do que antigamente... A vontade de fazer coisas e mais coisas é totalmente diferente. Mesmo quando tudo o que tenho para fazer me faz sair de casa de noite e regressar quando o sol já se pôs (mesmo nesta fase do ano em que a mudança de hora e os dias são mais longos nos permite ter mais horas de luz), sinto-me bem. Sinto-me leve. Sinto-me com vontade de poder realizar todos os meus desejos e todos os meus sonhos. Sinto-me com energia para chegar lá onde quero chegar.

E sinto que finalmente vou poder voltar a dedicar-me a este cantinho de que tanto gosto e onde já tenho tantas mas tantas palavras escritas... Penso que agora posso dizer... I'm back again!!!